O século XXI é traiçoeiro. Toda a tecnologia, meios de comunicação, tentativas de conquista e mania de grandeza fazem até com que nossos sentimentos e pensamentos sejam alterados.
Por exemplo, você está na internet, procurando sites e caindo em janelinhas que você não pediu para serem abertas e horas depois você está conversando com uma pessoa que nunca viu na vida, na maior intimidade, perguntando de planos para o futuro, idade dos irmãos e rotina. Quando acontece a despedida, seu cérebro manda estímulos nervosos para seus dedos da mão que prontamente apertams as teclas "A", "N", "O", "T", "A", espaço, "M", "E", "U", espaço, "N", U", "M". Você para. "8", "3",... Ai você para, pensa, coloca as mãos na perna e fica 42 segundos olhando a janela branca. Seu cérebro é um ser de vida própria, continua enviando os estímulos e seus dedos continuam a digitar o número. Parece que algum tipo de alien invisivél carrega seu dedo indicador para o botão "enter" em uma fração de segundos e seu número está lá. Uma seqüência de 8 dígitos que podem fazer com que sua vida mude. Dai então uma mensagem aparece. "Ok". E é só. Parte de sua vida depende de 8 dígitos nada complexos numa ordem tão ilógica quanto sua vida. `Pronto. Simples assim. 18 anos de história, experiências, frustrações e sucessos podem ser aberto com uma senha de 8 dígitos combinados com algumas perguntas e respostas. Esquece. Isso é idiotice. Quem disse que uma seqüência de 8 dígitos desconhecidos vai aparecer no seu celular com as palavras "Incoming call" em cima? Você continua sua vida, afinal 8 números definitivamente não podem reger sua vida.
Alguns poucos dias depois, você está voltando para casa, com seu IPod no ouvido tocando "House Boulevard", normalmente, seguindo sua vida, quando seu celular vibra. "Saco, o que meu pai quer de novo?". Você fala tranquilamente com seu pai e desliga. Ainda na sua mão, o invento do milênio vibra de novo. Dessa vez um "Incoming call" aparece. Você atende, afinal, não sabe quem é. Imagine: você, ás 18 horas em um lugar barulhento, atendendo uma ligação.
- Alô - esse é você.
- Oi, quem é?
- Com quem você quer falar?
- Quem tá falando?
- Thiago - esse é você, no caso eu, mas seria seu nome.
E a pessoa desliga. Agora sim sua vida está completa. Alguem que você não sabe quem é está te ligando, tem o seu número e sabe seu nome e que você está num lugar barulhento. Você redisca. Toca. Toca. Toca. Caixa postal. De novo. Toca. Toca. Toca. Caixa postal.
Era uma voz de homem bonita. Forte, meio rouca, decidida, não nervosa, mas objetiva. Você é persistente. Redisca. Toca. Toca. Toca. Caixa postal. Seu cérebro manda um estímulo para ele mesmo e então você decide: se for importante, vai ligar de novo.
continua...
segunda-feira, 9 de junho de 2008