Eu não sei o que aconteceu comigo. Eu não sei se tudo isso de fato está acontecendo.
A verdade é que fui picado por um mosquito e depois disso comecei a me sentir estranho. Não tenho febre, o que esquenta em mim é o coração. Poderia ser hipertensão pois meu coração bate muito rápido, mas não seria um mosquito o causador disso. Sinto sonolência e vontade de fazer nada. Começo a suar. Eu não sei o que é isso, esses sintomas não são normais.
Fui no médico e ele me passou um monte de exames. Não detectou nenhum problema. Em um dos exames, ele falava alguns nomes e algumas sensações. Não tive reação estranha em nenhum dos nomes e em nenhuma das sensações. Então ele me encaminhou para o psicólogo.
Sentei no divã e fui bombardeado por perguntas. Todas respondidas com total convicção, mas dessa vez ele me perguntou sobre meu dia e o que sentia durante ele. Quando respondi, ele arregalou os olhos e disse que estava com um problema muito mais sério e que era para eu me preocupar porque não tinha cura. Surtei quando ele disse o nome da doença.
Cheguei em casa e procurei no Google a respeito. Palavras jogadas, nenhuma fazia sentido. Ah sim, o médico havia receitado manter-me calmo e acompanhar a evolução da doença. Mas... Acompanhar a evolução da doença? Até que ponto? Poderia morrer? Tinha muitas perguntas, dúvidas, medos, mas nenhuma solução ou algum remédio para amenizar.
O suor e o corpo quente continuaram.
Quando sentei novamente no divã, a aparência do médico era diferente: ele estava mais corado, mas feliz e encharcado de energia positiva. Aquilo me contagiou. Sempre pensei que quem deveria falar sem parar era eu, mas o médico não parou de falar comigo, me contando sobre coisas da vida e sobre reações e sintomas que eu sentia. Falou um pouco sobre a doença. Não mencionou morte nem malefícios. Ele disse que a própria doença gera o remédio e que esse remédio me causaria dependência, mas para eu não me preocupar (novamente). Tudo era tão confuso, tão complicado que um sentimento em mim surgiu. Esbossei um sorriso na hora e o médico me acompanhou. Disse que o remédio já estava agindo em meu corpo. Falei que não havia tomado remédio nenhum. "Não é o tipo de remédio que se ingere..." me respondeu o psiquiatra que sorriu logo em seguida.
Havia entendido. Estava claro agora que engoli a seco e percebi do que se tratava.
Deixei o consultório. O médico se despediu de mim dizendo: "procure sua doença mas não tenha medo dela".
Depois de muito tempo, muito tempo mesmo eu consegui ficar doente novamente. Foi uma coisa que persegui e fugi por tanto tempo, mas agora me sinto preparado para adoecer e vou me entregar a essa doença. Quero viver intensamente essa enfermidade e não me curar.
Estou apaixonado. Doentemente apaixonado. Meu coração pode agora tranbordar de alegria por adoecer, por bater muito rápido. Meu corpo fica quente e permanace nessa temperatura por um tempo até gotas de suor brotarem na minha testa.
Não quero ingerir remédios. Quero distância deles. Quero proximidade dele, é isso que eu quero.
Apaixonar-se é adoecer sem riscos, é algo que você não controla, que toma proporções incríveis e que te fazem sucumbir de desejo e felicidade. Você fica passivo de riscos e nem se preocupa. Você está apaixonado. É como morder uma pedra e triturar com os dentes cada pedaço. É uma doença que te dá vida, garra, força, que faz com que você seja cumplice, fiel, devotado. É a melhor doença que existe. Constroi-se uma montanha russa na tua barriga a cada segundo que antecede o beijo e um alívio quando os olhos se encontram. Mas, ao mesmo tempo, é uma casa dos horrores quando há a despedida.
Fui picado pelo mosquito do amor, do respeito e da admiração que injetou em minha corrente sanguinea o veneno mais satisfatório que existe.
Fui picado sem querer, sem esperar, mas ele tomou conta da minha pele, dos meus desejos e dos meus sonhos; do meu tempo e da minha vontade; da minha certeza e da minha fidelidade.