quarta-feira, 11 de junho de 2008

Surpresa! O sentimento chegou - Parte II e final

Postado por Thiago Ghougassian

Então você esquece. Continua andando no meio daquelas pessoas, no meio do barulho. Você entra no ônibus e senta. Tenta ligar de novo. Toca. Toca. Toca. Caixa postal. Seu cérebro, o mesmo que pensou 42 segundo antes de digitar o resto do número, não pensa nem 10 segundos e envia estímulos para seus dedos que a esse ponto estavam frios, duros, estralando simplesmente por dobrar. Eles retiram de seu bolso o invento do milênio, destravam as teclas, apertam "Menu", procura por "Messages", seleciona o item 1 "New Message", decide por "Text Message" e, naquela tela azul começa a digitar, incontrolavelmente as teclas até formar a mensagem: "Olha, eu nao consigo falar com vc, mas fica sabendo q tua voz eh linda". Então os aliens carregam seu dedo para "Send", seleciona o misterioso número e clica "Ok". A mensagem percorre um mundo olográfico que o olho humano nunca poderá ver e então na tela aparece "Message Send". O que poderia fazer agora? Quardar o celular, retirar da mochila o livro "O Diabo veste Prada", abrir na página "121" e continuar lendo as aventuras de Andrea Sachs.
Quando você chega na parte que Emily pergunta quanto Andy calça e seu bolso começa a tremer. Ha! O número que chama é desconhecido pelo celular, mas conhecido, estudado e odiado por você. A tecla verde é apertada, o celular é levado ao seu ouvido direito e então você fica quieto.
- Alô? - esse é você (porque você sempre começa a falar?)
- Oi, desculpa não atender. É que eu estava meio ocupado.
- Ah não, tudo bem... É que queria saber quem é...
- É o Felipe...
- ...Ah... Oi! Td bem? - certo, seja honesto. Você não tinha idéia de quem era.
- Td e ai?
- Td bem... É... Desculpa... Mas que Felipe?
E então uma conversa é iniciada.
- Ah tá! E ai como você tá?
- Td certo. Onde você está?
- Indo pra casa...
- Hm... Voltando do trabalho?
- Sim... Agora vou viajar para casa! É longee...
- (risada)
Seu coração dispara. Você sabia que seus olhos estavam brilhando e não precisava de espelho para ver. Seus lábios se esticavam e cobriam parte de seu rosto, deixando os dentes á mostra. Era a risada mais confortante, gostosa de se ouvir. Era uma risada harmonica. Continha tons silábicos perfeitos. Se fosse uma cifra musical, nem Bethoven poderia toca-la de tão singular. Você começa rir. Você ri, não da sua piadinha sem graça, mas daquela risada. Uma risada que você poderia ouvir o dia inteiro, por todos os dias da sua vida. Você contaria a piada mais ridícula do mundo só para arrancar um tom daquela risada. E você estava completo.
- Ah então boa viajem - e a risada prosseguia
- Obrigado - e a felicidade também prosseguia. - e você? Onde tá?
- Indo para a faculdade...
- Então boa aula!
- Obrigado - risada linda... - Então depois a gente se fala.
- Tá bom
- Tchau
- Beijo... Tchau. - "Beijo... Tchau"? Você nem sabia quem era e estava mandando beijo?
Durante quase 1 hora, tempo que ônibus demorou para chegar em meio ao trânsito das 18 horas, você ficou estático, pensando só na voz, nas palavras.
E assim foi aquela noite. No banho, na cama, quando acordou, quando foi para a faculdade, quando foi trabalhar. Você pensou numa voz e bloqueou todo e qualquer pensamento. Você então entra na internet. Procurou na sua lista por Felipe. Não achou. Estava angustiado já. Foi quando uma janelinha sobe do lado direito da sua tela: Gustavo. Sim, você tinha falado já com esse Gustavo. A conversa é iniciada por ele. "Oi" aqui, "Td bem e ai" ali e ele solta uma pergunta. A pergunta que você não espera ouvir. Você só pensava em achar o tal Felipe-da-voz-bonita.
- Como foi sua viagem ontem? Rss
Certo. Eu não tinha ido viajar ontem e... Quem raios perguntaria uma coisa dessa?
- Viagem?
- Ué... Sua casa não é longe?
Pronto. Alguem sabia que você morava longe e costumava chamar de "viagem" a volta do trabalho. Foi quando você para. 42 segundos depois de um pane mental você lembra da piada sem graça que fez ontem. A piada que gerou a risada. A mesma risada que você se concentrou nas últimas horas. Era ele. Estranhamente era Gustavo e não Felipe.
- Mas... Vc não é o Felipe?
- Rss... É, mas esse é um fake... Me add no e-mail pessoal
Pronto. Você sabia com quem estava falando. Era o dono da voz, mas você não sabia mais nada além disso.
Mensagens, risadas, conversas e telefonemas depois, você conhecia um pouco do que chamava de Fe. Sabia que estava viajando e que fazia academia. Que mudaria de emprego e que trancou a faculdade. Sabia que foi uma vez para a cidade que você mora e sabia que calçava 42. Sabia muito sobre ele. Sabia que, quando você estava nervoso uma vez, acessou a agenda do seu celular, procurou por "Fe", lembrou da risada, fechou os olhos, respirou e tudo deu certo depois. Sabia que estava encrencado.
Todos os dias que seguiam eram assim: telefonema, mensagens no celular, MSN a tarde, telefonema e mensagens depois. Em pouco tempo se via vivendo aquela rotina deliciosa que reservava bons momentos, boas risadas, bons segredos, palavras de carinho. Era uma coisa pura, doce, infantil na verdade. Seus sentimentos pareciam engrenagens de máquina: estavam se movendo constantemente. O coração da máquina fazia com que ela se mexe-se cada vez mais rápido e devagar, alternando as velocidades.
Isso era o bastante. Chegou a uma conclusão: não conhecia fisicamente e não precisava disso. Você conhecia algo mais precioso e importante: o que a pessoa é. O que fez. Você agora está com medo... Como isso poderia acontecer? Justamente com você? Então você fala isso ao Felipe. Fala que esta sentindo coisas estranhas e patéticas e a resposta foi surpreendente: "eu também. mas vamos deixar isso fluir... sei que vai dar certo. está dando certo". A engrenagem parou. 42 segundos foram uma eternidade. Você sabia o que queria. E ele também. E estava feito.
Agora você está ligeiramente dedicado a isso. Você quer falar com ele, quer mandar mensagem, quer encontra-lo. Quer viver isso mais do que qualquer coisa na vida. Quer enfrentar esse medo e viver algo mais grandioso, algo que mudará sua vida. Arrisque. Não custa nada e é o que você quer.


"Não existe certo ou errado e sim o que te faz bem e o que não faz bem"
Pikachu... Uma amiga muito especial

Quero viver isso.
Á você Príncipe. Uma chance para nós.
Me cativou, cativa e cativará sempre.
Obrigado.