quinta-feira, 10 de julho de 2008

Desabafo

Postado por Thiago Ghougassian

Ontem assisti pela décima primeira vez o filme "Um amor para recordar" (A Walk to remember). Quando estava colocando o filme no aparelho de DVD, fiquei lembrando a trajetória do filme até minha casa: aluguei-o na biblioteca da faculdade, me contaram o final do filme sem querer, assisti, chorei, assisti de novo logo em seguida, chorei novamente e devolvi. Foi quando, depois de um tempo, andando pela FNAC da Paulista que o vi, em promoção, no meio de filmes pouco conhecidos. Não aguentei e comprei. Assisti. Chorei. Vi os extras. Copiei frases. E eu sempre assisto esse filme quando me sinto incompleto.
Coloquei o DVD, o menu apareceu, selecionei "Iniciar filme" e então começou: a cena do lago, da aula de Matemática que o Landon dava para o menino, a aula de teatro, o pedido de ajuda, a paixão... Minha mãe assistiu comigo (ela já tinha assistido quando peguei da faculdade) e não se conteve: chorou. Fiquei intacto no sofá com o cobertor laranja e a pantufa do Scooby Doo. A única coisa que se mexeu em meu corpo foram os pulmões que se contraiam e relaxavam, ora rapidamente, ora lentamente; se mexiam também meus olhos que acompanhavam as cenas com medo de perder algo. Meus olhos acomodavam as lágrimas que brotavam do nada e molhavam minhas bochechas e minha boca. O olho esquerdo começou a arder quando Landon levou Jamie para a divisa do Estado. A manga direita da blusa tentava secar meu rosto quando ele falou: "Eu te amo." e ela disse: "Eu te pedi para não se apaixonar por mim."
Uma hora e quarenta e dois minutos depois, o pulmão se confundia no ritmo que estava, assim como minha cabeça. Eu não sabia o que pensar. Seria só nos filmes que isso acontecia ou existia algo real próximo disso? Ele realizou os objetivos de vida dela. Ela acreditou nele. Era tão puro o amor deles, tão sincero que não aconteceu de uma hora para outra. Eles se deixaram levar. Ela mudou a pessoa que ele era. Ele não a abandonou, deixou parte dos amigos que não estavam do lado dele e foi sincero quando disse que a amava. Existe alguém que daria o nome da pessoa que ama a uma estrela e registraria? Alguém passaria a noite dentro de um carro com a pessoa e não transaria? Pediria em casamento com dezoito anos? Construiria um telescópio (levando em consideração que não sabia nada sobre isso) só para ver um sorriso no rosto dela?
Me parece muito distante. Escrevo muito sobre o amor, sobre sensações, ações que denotam carinho e atenção. Mas quando desligo o computador e vivo a realidade, isso é muito abstrato e então busco em mim um erro, algo que estou fazendo que deva ser corrigido. Busco erros em minha forma física, em minha pele, barriga, tamanho do rosto, formato da mão. Busco erros ainda em minha personalidade: ansioso, curioso, apressado, sensível de mais, paciente de menos. Não sei. Nenhum erro é grave o bastante que precise ser remediado. E ai percebo que o erro não está inserido em mim e sim nas pessoas, em como elas levam suas vidas, em como banalizam sentimentos e, algumas delas, em como banalizam sentimentos sinceros que ofereço, em como perdem oportunidades e em como devam (ou não) se arrepender. Quando gosto realmente de alguém, essa pessoa não gosta de mim e quando finalmente alguém gosta de mim, não posso retribuir da mesma forma pois sinto que é banalização excessiva da palavra "amor". É isso a vida? A eterna busca pelo amor? Pela realização?
Em minha cama parei para refletir: coloquei o travesseiro por cima de meu braço esquerdo, abrançando-o, deitei de lado e, por alguns minutos fiz daquele quarto escuro uma extensão de minha mente e vida. Organizei nas paredes de gesso ações, idéias, projetos, rotina, desejos. Faço faculdade e trabalho, logo profissionalmente estou realizado. Levo uma vida, no geral, feliz, sem vícios e sem problemas financeiros, logo estou estável. Na área familiar não posso reclamar pois as brigas se reduziram. Tenho muitos amigos e posso confiar em meia dúvia o que pra mim já é perfeito. Sentimentalmente tenho um histórico pouco feliz: tive relacionamentos que me desapontaram, me iludiram e brincaram comigo, porém aprendi com eles, tirei uma lição para minha vida. Não quero de forma alguma me por no papel de vítima, mas como ser feliz se fui traido, usado e cassoado? Sei que fui amado também, mas é tão opaco esse sentimento perto das ações que ofuscam e não me deixam sentir felicidade agora.
Tento parar de pensar, juro que tento. Tento seguir um regime, trabalhar, sair com meus amigos, mas todas as vértices dos meus pensamentos me levam á um abismo existencial enorme. Existo para mim, mas queria dividir isso com alguém que vale a pena, que consuma e me de atenção, respeito e carinho. Não procuro mais. Estou nas mãos da vida e espero que ela não me destrua porque sei que isso ela não quer. Quero que ela me conduza num caminho seguro, um caminho que eu possa trilhar um trajeto de sucesso, um trajeto para colher somente realização amorosa.
Certo, tenho dezoito anos e digo como uma pessoa de sessenta que nunca pode ser amada, mas me sinto como uma. Sinto-me estranho nesse mundo que ficadas são frias, sexo é prazeroso por dez minutos e festas acabam com camisinhas no lixo, enroladas num papel higiênico. É superficial e momentâneo de mais. Não existe um anseio, um plano maior, um traço de futuro. O futuro termina as sete da manhã, quando muito. Não há quebra de expectativa, destruição dos próprios limites, confiança numa pessoa.

"Não é força que falta as pessoas, é vontade."
Victor Hugo, poeta francês